sábado, 28 de julho de 2007

Ora Bolas!!! (ou melhor, bolhas!)

Alguns assuntos acabaram tomando minha atenção e eu acabei esquecendo de tratar das bolhas.
Vamos a elas... Nos últimos 4 anos a economia mundial apresenta aceleração. No mundo atual, globalizado, há um quesito importantíssimo, a INTERDEPENDÊNCIA. Estamos todos conectados e as ações de uns refletem-se nas dos outros. Assim, a simples presença de um país é motivo de constrangimento aos demais, entretanto, essa mesma presença pode significar grandiosas oportunidades. É tudo muito complexo e depende do modo como essas unidades interagem entre si.


Nesse mundo intrincado há uma coisa chamada Circuito Asiático da Economia Mundial. Funciona da seguinte maneira: Os países do leste asiático - China em especial - produzem mercadorias com preços muito competitivos que são facilmente absorvidas pelos consumidores americanos que aguardam para consumí-las. Isso vem gerando enorme superávit nos países em relação à maior economia do mundo e essa grana retorna ao mercado americano como investimentos em papéis com garantias do tesouro.

Muito técnico, né? É o seguinte, as mercadorias feitas lá no oriente são baratinhas - e hj até têm certa qualidade e mta variedade de opções - e são consumidas pelos gringos (mas tb pelo resto do mundo) o que faz com que a grana vá pra lá e eles encham seus cofres. Para melhor aproveitar essa oportunidade eles investem em papéis garantidos pelo governo gringo. E pq isso? Isso pq os EUA é considerado o país mais solvente do mundo, que sempre paga suas contas e assim o risco para quem investe lá é praticamente nulo. Inclusive o risco-país é calculado comparando-se os comportamentos de títulos da dívida externa dos países (as médias dos prêmios pagos por esses títulos) em relação a papéis de prazo equivalente do Tesouro dos EUA.

Mas então qual é o problema? O lance é que essa liquidez dos EUA é tida como infalível mas há vários indícios contrários. Há alguns anos isso ficou claro ao mundo com o alarde causado pelo escândalo do caso Enron. Essa empresa falsificava seus livros contábeis e assim, conseguia convencer investidores de que estava financeiramente saudável. Gerava uma bolha. Mas existem outras bolhas...






A conotação de bolha para a economia é algo multicolorido e atrativo mas tb, a exemplo das bolhas reais, algo frágil e passageiro.




O problema específico das bolhas é que não podemos nunca esvaziar o gás q elas encerram de modo gradual. As bolhas estouram e de modo brusco o gás escapa para todos os lados!

A bolha atual que mais têm preocupado os EUA e o mundo é a bolha do mercado imobiliário americano. É algo um tanto complexo pq conta com vários elementos mas não é nada difícil de entender. O mercado imobiliário americano vinha demonstrando muita pujança. A ponto, inclusive, de ao se anunciar um imóvel, esse imóvel receber múltiplas ofertas de compra e venda em poucas horas. Os compradores de imóveis se beneficiavam de programas de investimento de 100% do valor do imóvel sem necessidade de dar entradas e com taxas de juros fixos por um período de 2 a 3 anos. Depois disso eram renegociadas essas taxas.

A parte ruim disso vem agora. Empresas de financiamento imobiliário passaram a oferecer diversos programas de financiamento possibilitando a compra de casa por pessoas sem qualquer qualificação financeira e com problemas em seu crédito. Olha a bolha aí!!!

Por sua vez, os investidores de Wall Street compravam as notas promissórias seguradas por esses imóveis pois isso representava rendimentos cada vez maiores e isso se firmava pq os valores imobiliários subiam a uma média de 20% ao ano.

A instabilidade atual se deve a vários motivos: A política de taxas de juros do FED manteve a taxa de juros (Federal Funds Rate) a níveis baixos por vários anos buscando com isso aquecer a economia americana; as taxas praticadas pelas empresas de financiamento acompanharam as taxas do FED; muitas pessoas passaram a ter acesso à compra de casas e o mercado aqueceu; essas pessoas optaram pelas taxas mais baixas e os programas de juros fixos por 2, 3 anos MAS terminado esse período inicial em q as taxas mensais se mantém fixas elas passam a ser ajustadas de acordo com os índices atuais.

Ok. A Economia americana estava aquecida e o FED então passou a aumentar a taxa nominal de juros (Federal Funds Rate) visando controlar as taxas de inflação. Seguindo o exemplo, as empresas de financiamento imobiliário passaram a aumentar lentamente as taxas de juros que praticavam. Entretanto, Wall Street e seus investidores estavam acostumados com o mercado aquecido e os compradores estavam acostumados às taxas baixas...

O aumento na taxa nominal de juros passou a dificultar o acesso do consumidor de classe média a esse tipo de financiamento. Eles não mais se qualificavam para as modalidades clássicas de empréstimos. MAS as empresas de financiamento e os investidores queriam manter os níveis de financiamento e para isso passaram a criar novos programas de investimento adotando critérios mais frouxos para a qualificação. (e a bolha cresce...)

Então, esses novos programas possibilitavam compras de casas por pessoas que antes não poderiam comprá-las seja por falta de garantias como poupança e mesmo por terem problemas com seu crédito. Isso quer dizer que o risco desse tipo de operação aumentou considerávelmente pois passou a negociar com uma faixa da pessoas que, ou não tinham condições de pagar, ou eram conhecidos maus pagadores...

Pois bem, pra ficar ainda mais legal os aumentos progressivos das taxas de juros coincidiram com a redução na taxa de crescimento. Os imóveis não experimentavam mais aumentos de 20% em seus valores mas sim mantinham seu valor ou até mesmo diminuiam. Tal fenômeno foi conseqüência do crescimento voraz dos anos anteriores. Além disso, o crescimento médio no salário base da classe média foi algo em torno de 4% ao ano enquanto o crescimento médio no preço dos imóveis nos anos anteriores foi algo entre 15% e 20%. Dessa maneira os imóveis se tornaram muito caros para a classe média e esse problema foi acentuado pelo aumento nas taxas de juros.

E, como as coisas costumam ser cíclicas, ainda mais em economia, está terminando agora o período de 2, 3 anos em que as taxas se mantiveram fixas e baixas. Esse boom teve início por volta de 2003/2004 e agora, em 2007 passaremos a perceber o reflexo dessas taxas baixas sendo ajustadas para o novo padrão consideravelmente mais alto. (é a bolha estourando, de modo previsível, mais ainda brusco!)

Existem, é claro, alternativas. Nos anos anteriores quando esse período fixo terminava os compradores simplesmente tomavam outro empréstimo - refinanciavam seu empréstimo - e assim, o período fixo reiniciava. O valor dos imóveis subia 20% e assim o valor do imóvel suportava o novo empréstimo sem dificuldades. Mas agora a coisa mudou! Com os valores dos imóveis permanecendo baixos a opção de refinanciamento não existe. Os salários não acompanham o aumento das prestações e mesmo a venda da casa para quitar o empréstimo não é possível pois o valor dela no mercado atual é menor que o valor do empréstimo. (bolha!)

As opções encontradas têm sido o chamado "short sale" ou abandonar o imóvel. E não são boas. O "short sale" significa vender a casa por um valor menor do que o do empréstimo! Algumas empresas têm aceitado isso pq assim recuperam parte do dinheiro e não têm gastos de ordem jurídica para mover a ação de reintegração de posse e recuperar judicialmente a casa. (é bem complexo, né?) A outra opção, abandonar o imóvel, faz com que a empresa de financiamento tenha de vender a casa em leilão. Em leilão, o preço mínimo do imóvel passa a ser o valor do empréstimo - oq é bom para as empresas pois recuperam seu dinheiro, mas é ruim para as vendas pois o valor do empréstimo costuma ser maior do que aquilo que o imóvel vale de fato - e não sendo vendido em leilão o imóvel é colocado no mercado como "bank Sale" (venda por banco).

Aí oq rola? A empresa de financiamento vende pelo preço de mercado que é menor do que o da dívida! E no todo, essas duas opções, fazem com que o sistema financeiro saia perdendo, ele e os investidores de Wall Street!!! Afinal, se a conta não fecha, acaba sobrando pra alguém, né?

Tal situação foi ocorrendo pq no seu auge as empresas facilitaram demais a concessão de financiamentos até mesmo para pessoas conhecidamente não idôneas. Oq importava era manter elevadas as taxas do negócio! Tivemos vários incidentes de falsificação de documentos nos processos de empréstimos para que mais e mais pessoas pudessem se qualificar para eles. Foi oq me fez lembrar da Enron e oq que sugere que isso não é algo isolado, mas uma prática comum...

Com isso tudo, a galera de Wall Street passou a pedir às empresas de financiamento o ressarcimento desses empréstimos - afinal com grana ninguém brinca - e têm sido contrários à criação de novas linhas de crédito. Esse "stress financeiro" e a desconfiança q ele provoca já levou algumas empresas à pedir concordata e mesmo à falência! Com as denúncias de falsificações e tudo o mais existe uma investigação em curso movida pela Securities Exchange Commission para averiguar tudo.

MAS - novamente o mas - há uma boa notícia nisso tudo. Esse mercado de compradores de crédito "B" é oq eles chamam de SUB-PRIME, os de crédito "A", com recursos no banco, bons empregos e bons históricos de pagamento de suas dívidas sãos os PRIME - há até bancos fazendo campanhas com a "distinção" q essa palavrinha evoca. (ou seja, o bom mesmo é ser prime, o resto, pobres, universitários e por aí vai, somos todos sub-prime, triste, né?)

O problema no mercado gringo tem sido exatamente com os sub-prime. São eles que não saldam as contas pq seus salários não acompanham o aumento dos juros e tal... Os prime, por sua vez, pagam suas contas em dia e não têm qualquer problema. E, premidos pelos invenstidores de Wall Street, cada vez mais as oportunidades serão focadas nessa parcela do mercado tornando-se mais e mais excludente! E isso, como sabemos, traz problemas de outra ordem, talvez até mais complexos que os de agora.

Então, a idéia é que esse momento atual funcione como uma peneira capaz de eliminar as empresas de financiamento imobiliário instáveis financeiramente, desonestas ou à beira de falência que focaram os seus negócios nos compradores sub. O mercado sub-prime continuará a existir, mas sob outros critérios mais rígidos. Ou seja, os sub pagam o preço!!! Ainda assim o receio dos investidores de Wall Street tende a se amenizar já que ainda haverá mercado para papéis hipotecários. Eles continuarão ganhando grana! A "seleção natural" cumprirá seu papel e só os mais aptos ou abastados se manterão no topo.

O lance é que devido a tal da interdependência todos esses movimentos refletem-se em nossas vidas diárias e o rompimento brusco da película dessa bolha pode fazer soprar ventos fortes nos mercados que possam ser vistos como SUB-PRIME, afinal, muitos dos que hj são tidos como PRIME, para poderem ostentar tal distinção apelaram a falsificações de seus balancetes... Então, sabe-se lá quem de fato é prime!

Puxa, ficou longo, denso até, mas acredito que a lógica interna dessa "bolha" foi revelada! Fiquem atentos! A economia mundial tem crescido e crescido e os países têm conseguido garantir bons índices de crescimento - menos o nosso q só cresceu mais que o Haiti, mas td bem, esse governo não poderá se tre-eleger, ufa! Entretanto há sinais claros como os componentes dessa intrincada bolha que indicam que em breve, talvez o mundo não cresça tanto e aí, os países terão de fazer esforço extra pra conseguir novas bolhas, novas oportunidades lucrativas e terão de ser muito hábeis para fazê-las tão longêvas quanto tem sido essa!

Deep.

2 comentários:

Rosa Mística disse...

crescer, crescer ..
crescer, desenvolver e crescer, desenvolver.

E criam também números, e estes números são uniformes para todos os países que queiram entrar na marca dos países desenvolvidos. Tem que crescer, e tem que crescer iguais àqueles que produzem milhões de quinquilharias para o mundo.

Uma GRANDE e formosa bolha do desenvolvimento faz a cabeça de um mundo afoito para o consumo, e se o mercado tornou-se complexo e difícil, criamos novos mercados, investimos em outros territórios.

Admiramos a BOLHA, cultuamos a BOLHA.
Também criamos, guerrinhas, entre um ciclo de bolhas velhas
e outros ciclos de novas bolhas. E voamos longe, bem longe com ajuda especulativa do capital financeiro.

beijos
Nice
Mundos.paralelos.com

Anônimo disse...

Ei amigo, tudo in riba? Seguinte, ainda não li o post, pretendo fazer isso agora, entrei só pra avisar que fiz propaganda do seu blog lá no meu. Sem falar que iria adorar se vc respondesse os beijos que te mando lá no meu último post. =D
Beijão!!!